as brechas e as coisas


Em seu Antropofagia Zumbi, Suely Rolnik traça uma interessante reflexão sobre como a experiência brasileira, a partir dos cinco séculos de vivência canibal. Passando pelos hábitos de Guerra dos povos tupinambás, pela força do Manifesto Antropofágico na fundação das bases do modernismo brasileiro a partir de uma perspectiva digestiva, foi se criando uma forma de pensar que influencia a produção de cultura em impulsiona um determinado ethos que se perpetua até os dias de hoje. A experiência Antropofágica é, para Rolnik, um exemplo potente sobre como lidar com os “mundos prêt-à-porter” que o capitalismo nos oferece e o impulso de consumo apropriador que permeia o imaginário da contemporaneidade.

 

A morte do ch’uel em pessoas e coisas na lógica capitalista apontada por Taylor é basicamente o que ergue este mundo fabricado para ser mercadoria e o que aniquila produções subjetivas que apresentam alguma desidentificação com essa lógica. A construção da ideia de “coisa” substituindo a noção de “objeto” para abarcar as múltiplas leituras possíveis da materialidade abre uma brecha para entendermos como os sistemas de apropriação antropofágico são distantes da fome apropriadora do Mercado capitalista. Potencializar a coisidade abre brechas para uma relação performativa com a materialidade do mundo e ampliam as chances de encontrarmos brechas de re-existência e uma vivência do modo de entendimento antropofágico no que ele produz de mais conectado a uma necessidade de subversão de lógicas aprisionadoras.

Taylor, Diana. "Dead Capital: Teatro da Vertigem, Bom Retiro" . . : , 2018.