THE WAR HAS NO REHEARSAL


In between/coexistence(s): roots, choices, freedom, repetition, spirals and cycles [constructions and destructions]

As diferentes epistemologias apresentadas nesta semana são defendidas como possibilidades reais e efetivas de ação diante do que constituímos como MUNDO (WORLD). Seria ingênuo, mais uma vez, acreditar na existência de uma em detrimento de outra como “solução” ou caminho para as complexas questões que tangem nosso modo de vida e nossa relação teórico-prática de amor e ódio com o sistema econômico (ECONOMY), sistema este que organiza TODAS nossas supostas escolhas, sejam elas sociais, políticas, culturais e afetivas, em diferentes escalas.

Se tudo opera através da LÓGICA DO CONSUMO (CONSUMPTION), e este fato é inegável a todas as espécies que vivem/viveram no mundo, incluindo humanos e os demais seres vivos, talvez todas as práticas por nós realizadas estejam organizadas sob esta lógica. Entre os processos de decolinização de diferentes territórios e suas estratégias de transformação, especialmente nas Americas, percebemos como sua formação/formulação se configurou como uma absoluta imposição tornado um sistema indefinível de prática viva e em agonia que move-se em espiral cíclica (Cusicanqui) e para além, metamorfoseando-se, camaleão de muitas faces que incorpora todas as formas necessárias para manifestar sua hegemonia.

Assim, num mundo comandado por 8 empresas transnacionais (TRANSNATIONAL COMPANIES) que detém os sistemas de produção, distribuição, comunicação, marketing e que mantém grande parte de nossas “escolhas”, incluindo não apenas os produtos em massa, mas também toda a sorte e especificidades para as contra-hegemonias, criando e recriando ideologias – representações e classificações (Smith) – para todos os tipos de público e intelectualidade, a estratégia NEOLIBERAL (Schumacher) tem utilizado com eficácia o desmoronamento das instituições a favor do deslocamento global e a manutenção de seus mercados, incluindo discursos de decolonização como prática de neocolonização.

Reflito aqui sobre a nossa capacidade de nos transformarmos e mantermo-nos em constante MOVIMENTO (MOVEMENT), utilizando TODAS as estratégias e táticas (STRATEGIES and TACTICS) (Certeau) para a construção e a reinvenção permanente das práticas de si e coletivas em nível nacional e transnacional. Sim, utilizando as mesmas (mesmas?) ferramentas do sistema hegemônico e apropriando-se delas com consciência, mantendo atenção para escaper das capturas que acontecem a todo instante. OXUM-MARÊ, um dos deuses do CANDOMBLÉ afro-brasileiro é para algumas tradições, o ORIXÁ dos CAMINHOS, apresenta-se sob a forma menos humana, uma cobra alada mágica que tem o poder de materializar-se em qualquer elemento/forma necessária para tratar/atuar/curar questões específicas. Sua figura carrega, ao meu ver, a potência da imaginação política emancipatória (emancipatory political imagination) (Souza), a capacidade de produzir veneno e de convertê-lo.

Se A GUERRA NÃO TEM ENSAIO (THE WAR HAS NO REHEARSAL), a presença – em todos os níveis que possamos imaginar – de TODOS OS POVOS antes (e ainda) colonizados torna-se fundamental, com todas as suas potentes epistemologias e maneiras de compreender e atuar no presente, mantendo durante o caminhar, durante o movimento, um pé no passado e outro pé no futuro. O ENTRE (BETWEEN) manifesta-se para Oxum-marê como possibilidade, exercício este praticado diariamente, a cada novo passo, sem trégua. Este é o passo de muitos dos rituais INDÍGENAS e AFRICANOS, o corpo preparado para o ATAQUE e para o ESCAPE (ATACK/ SCAPE). Entre a crise e a crítica, a ação permanente e camaleônica desafia-nos pessoal e coletivamente a redesenhar, a reinventar nossa presença no MUNDO como produtores, e não apenas consumidores, diante das outras cobras/hydras que surgem do mesmo modo com tamanha velocidade e fascínio. E isso implica construção e destruição, não de corpos, origens e ancestralidades, mas das falsas tradições naturalizadas e tornadas verdades.

Works cited:

Certeau, Michel de. “L’Invention du quotidien”, 1. Arts de faire et 2. Habiter, cuisiner, éd. établie et présentée par Luce Giard, Gallimard, Paris, 1990.

Cusicanqui, Silvia Rivera . “Ch’ixinakax utxiwa: A Reflection on the Practices and Discourses of Decolonization.” South Atlantic Quarterly 111. no. 1: 2012. Accessed 12 Oct 2018.

Santos, Boaventura de Sousa . Epistemologies of the South: Justice against Epistemicide. Abingdon & New York: Routledge, 2014.

Schumacher, Patrik . “The Stages of Capitalism and the Styles of Architecture”. London 2016

Published in: ASA web-magazine & (forthcoming): UED (Urban Environment Design) Magazine – International Edition, Beijing.

Smith, Linda Tuhiwai. “Decolonizing Methodologies: Research and Indigenous Peoples” . New York, Zed Books 2012.